A Ceia do Senhor, por Brennan Manning

O texto abaixo é um dos mais marcantes pra mim a respeito da Ceia do Senhor. O livro é incrível, mas já valeria só por esse pequeno trecho. Ele consegue trazer o real sentido da Ceia do Senhor, muito além de rituais ou tradições. Leia e deixe ele falar com você. Depois escreva nos comentários aquilo que mais lhe marcou.

Extraído de “O Evangelho Maltrapilho”, de Brennan Manning


Em lugar algum do Novo Testamento a posição privilegiada dos fracassados, dos zés-ninguém e dos desclassificados à margem da sociedade é revelada de forma mais dramática do que no ministério de Jesus de compartilhar refeições com eles.

Hoje em dia é praticamente impossível avaliarmos o escândalo representado pela comunhão de Jesus à mesa com pecadores. "No ano de 1925, se um abastado fazendeiro de Atlanta estendesse um convite formal para que quatro escravos negros colhedores de algodão comparecessem à sua mansão para um jantar de domingo, precedido por coquetéis e seguido por longas horas de conversa regada a conhaque, a aristocracia da Geórgia ficaria profundamente chocada, o estado vizinho de Alabama ficaria furioso e a Ku Klux Klan exasperada. Há sessenta ou setenta anos no sul dos Estados Unidos, o sistema de castas era inviolável, a discriminação social e racial inflexível e a indiscrição tornava a perda de reputação inevitável". 

No judaísmo da Palestina do primeiro século o sistema de classes era colocado em vigor à risca. Era legalmente proibido misturar-se com pecadores à margem da lei: sentar-se à mesa com mendigos, cobradores de impostos (traidores da causa nacional, porque coletavam impostos do seu próprio povo para Roma, a fim de ganharem uma comissão) e prostitutas era tabu religioso, social e cultural.

Infelizmente, o significado do compartilhar de refeições está em grande parte perdido na comunidade cristã dos nossos dias. No Oriente Médio, compartilhar de uma refeição com alguém é uma garantia de paz, confiança, fraternidade e perdão: a mesa compartilhada representa a vida compartilhada. Para um judeu ortodoxo, dizer "gostaria de jantar com você" é uma metáfora que implica em "gostaria de iniciar uma amizade com você". Até mesmo hoje, um judeu americano compartilhará sem problemas com você de um café com rosquinhas, mas estender um convite para jantar equivale a dizer: "Venha para meu mikdash me-at, o santuário em miniatura da mesa da minha sala de jantar, onde celebraremos a mais sagrada e bela experiência que a vida proporciona — a amizade". Foi isso o que Zaqueu ouviu quando Jesus chamou-o a descer do sicômoro, e é por isso que as companhias com que Jesus compartilhava as suas refeições provocaram comentários hostis desde o primeiro momento do seu ministério.

Não escapou à atenção dos fariseus a intenção de Jesus de manter amizade com a ralé. Ele não estava apenas violando a lei, estava destruindo a própria estrutura da sociedade judaica. "Todos os que viram isto murmuravam, dizendo que ele se hospedara com homem pecador" (Lc 19:7). Mas Zaqueu, não tão preocupado com a respeitabilidade, transbordou de alegria.

"Seria impossível subestimar o impacto que essas refeições devem ter tido sobre os pobres e os pecadores. Aceitando-os como amigos e como iguais Jesus havia removido a vergonha, a humilhação e a culpa deles. Ao demonstrar que eles importavam para ele como pessoas, ele concedeu a eles um senso de dignidade e libertou-os do seu antigo cativeiro. O contato físico que ele deve ter tido com eles à mesa (Jo 13:25) e que ele obviamente nunca sonharia em condenar (Lc 7:38,39) deve tê-los feito sentirem-se limpos e respeitáveis. Além disso, porque Jesus era visto como um homem de Deus e como profeta, eles teriam interpretado o seu gesto de amizade como a aprovação de Deus sobre eles. Agora, eram aceitáveis diante de Deus. Sua pecaminosidade, ignorância e impureza haviam sido deixadas de lado e não eram mais levadas em conta contra eles". 

Através da comunhão à mesa Jesus ritualmente traduziu em ação a sua percepção do amor indiscriminado do Abba — um amor que leva seu Sol a erguer-se sobre tanto maus quanto bons, e sua chuva a cair sem distinção sobre honestos e desonestos (Mt 5:45). A inclusão de pecadores na comunidade da salvação, simbolizada na comunhão à mesa, é a expressão mais dramática do evangelho maltrapilho e do amor misericordioso do Deus redentor. Uma pesquisa bíblica meticulosa indica que Jesus tinha residência em Cafarnaum, ou que pelo menos compartilhava de uma com Pedro, André e suas famílias. Sem dúvida, em seu ministério como evangelista itinerante, Jesus com freqüência dormiu à beira da estrada ou na casa de amigos. "O Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça" (Mt 8:20). Talvez tenhamos, no entanto, tomado essa declaração de modo literal demais. "Fica difícil entender de que forma Jesus podia ser acusado de receber pecadores (Lc 15:2) se ele não tinha alguma espécie de casa onde fazê-lo". 

Como voltava para casa de suas viagens missionárias, Jesus provavelmente tinha alguma espécie de residência semipermanente onde agia com freqüência como anfitrião. O compartilhar de refeições ocorria com tamanha regularidade que Jesus era acusado de ser beberrão e glutão (Lc 7:34). A lista de convidados incluía um desfile mulambento de vendedores ignorantes, prostitutas, guardadores de gado, senhores de cortiço e jogadores.

Hoje em dia, aqueles que buscam status são muito seletivos quanto aos que convidam para jantar, e entregam-se a elaborados preparativos (linho, porcelana, prata, flores, um requintado Beaujolais, molho de trufas, pato de Long Island flambado com framboesa, petit gateau por sobremesa e assim por diante) a fim de impressionarem as pessoas com quem querem ter um bom relacionamento. Eles aguardam ansiosamente o correio da manhã para verem se seu convite para jantar foi retribuído.

De forma consciente ou não, os impertinentes sociais de nossos dias não subestimam o poder ritual da refeição compartilhada. Os convidados pecadores de Jesus estavam muito conscientes de que a comunhão à mesa envolvia mais do que mera polidez ou cortesia. Ela significava paz, aceitação, reconciliação e irmandade. "Para Jesus, essa comunhão à mesa com aqueles que os devotos haviam descartado não era meramente expressão de uma tolerância liberal e de um sentimento humanitário. Era a expressão de sua missão e de sua mensagem: paz e reconciliação para todos, sem exceção, até mesmo para os fracassados morais".

Comentários

  1. Sentar-se à mesa indica um momento de renúncia e paz, onde colocamos nossas armas de lado e proporcionamos ao outro a possibilidade de ser conhecido. Por isso, a experiência da mesa se revela tão necessária e tão esquecida inclusive (e principalmente) dentro dos lares. Seus filhos o conhecem? Seu marido/ esposa o conhece? Por favor, deixe-se ser conhecido assim como Jesus o fez! Sente-se no mesmo nível das pessoas ao seu redor, olhe nos olhos, sorria gentilmente e, sem o menor esforço, você verá a igreja sendo construída diante dos seus olhos!
    Parabéns querido Marco, toda minha admiração e respeito!

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